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Ela tentou tênis e futebol, mas no futevôlei virou imbatível até pra Neymar

Renata Mendonça

15/03/2019 10h33

Foto: Reprodução Instagram

Tem gente que parece ter nascido para ser atleta. Natália Guitler é uma dessas. Ela começou no futebol, depois se apegou ao tênis, esporte pelo qual se profissionalizou e, já na fase adulta, descobriu que o futevôlei era o melhor caminho a seguir. Habilidade não faltou para ela em todas as modalidades, mas na praia ela se tornou realmente imbatível.

Tanto que, no fim do ano passado, disputando uma partida de futevôlei com o melhor jogador de futebol do Brasil na atualidade, Natália Guitler e sua dupla Bianca Hiemer deixaram Neymar no chão. O jogo contra ele e Nenê, meio-campista do São Paulo, não teve fim e terminou empatada, com um set para cada lado, porque ninguém aguentava mais jogar naquele nível (e no calor que fazia na Bahia, onde estavam para passar o Revéillon). O craque brasileiro do PSG reconheceu a habilidade das adversárias e virou fã delas no futevôlei, uma modalidade que está começando a ganhar mais espaço agora – e que Natália e sua dupla fazem questão de promover, principalmente entre as mulheres.

"Eu vejo no Rio muitas meninas, que são muito craques, jogam muito. No Rio tem mais gente jogando, mas (o futevôlei) tem virado febre no Brasil inteiro. Está começando a ter demanda pela modalidade no país inteiro. Não é tao grande como futebol, mas existe essa curiosidade de aprender, conhecer, ainda mais agora com redes sociais", contou Natália em entrevista às dibradoras.

Aproveitando suas redes sociais, Natália costuma divulgar seus treinos e um pouco de sua habilidade com os pés na areia. Ela já soma quase 600 mil seguidores no Instagram e, juntamente com a parceira Bianca, promove clínicas de futevôlei em diversos lugares do mundo, numa tentativa de "popularizar" mais a modalidade.

Mas a história de Natália no esporte começou muito antes disso – e numa modalidade bem diferente.

Início no tênis

Todo brasileiro nasce com a bola nos pés – e algumas meninas têm a sorte de ter esse incentivo desde cedo. Com Natália foi assim e ela teve seu início no esporte justamente no futebol. Mas depois de algum tempo, e também pelo fato de não se ter lugares para meninas jogarem futebol na época, os pais dela decidiram incentivá-la no tênis. E incentivaram tanto que Natália foi trilhando seu caminho para ser profissional.

"Cheguei a tentar ser atleta do futebol. Foi meu primeiro esporte, tenho três irmãos mais velhos, sempre joguei com eles e já tinha essa habilidade e essa paixão pela bola. Aí por coisas da vida, minha mãe falou: vou te colocar no tênis. Aí me apaixonei no tênis. Joguei por muitos anos profissionalmente, fui número 450 do mundo, viajei por muitos países jogando. E quando chegou final da carreira, decidi estudar, e aí é difícil conciliar os estudos com a vida de atleta, são muitas viagens, fica muito difícil", explicou a jogadora.

 

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Desafio lançado 😜. • A pessoa que não sabe brincar sem desafio 💁🏼‍♀️ kkkk, marque seu amigo desafiando acertar o cone 🎾

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Mas como o futevôlei ainda não é uma modalidade olímpica e tem menos torneios acontecendo ao redor do mundo, foi possível para Natália voltar a um esporte que amava e se dedicar a ele juntamente com os estudos. Mas para quem pensa que ela é atleta de fim de semana, está muito enganado. Natália treina todos os dias da semana, metade deles na academia, metade na quadra. Em 2018, ela ganhou quatro dos cinco Brasileiros que disputou e lidera o ranking do futevôlei feminino ao lado de sua parceira Bianca.

"Tem cada vez mais campeonatos. Ano passado tiveram 5 Brasileiros, a gente perdeu um só na final e ganhou 4. Na Europa tem muitos países que jogam, tem campeonatos mundiais acontecendo por lá, Espanha, Itália, França. Mas o Brasil é único. Os maiores campeões mundiais são do Brasil. Neste ano, eu e minha parceira estamos tentando dar mais clínicas lá fora para mostrar mais a modalidade, porque se não tiver esse tipo de iniciativa não tem como eles aprenderem."

Habilidade diferente do futebol

Quem vê Romário dando show nas quadras de futevôlei por aí pode achar que qualquer um que seja craque no futebol, será também craque no futevôlei. Mas nem de longe é assim. Natália conta que já jogou com muito jogador que é fera nos gramados, mas come muita areia no futevôlei.

"Não necessariamente se você é um bom jogador no campo, você vai se dar bem no futevôlei. Joguei com vários que, pela qualidade que tem no campo, no futevôlei não jogam nada demais. Porque é outra técnica, é um esporte muito difícil, então eles querem aprender depois que se aposentam."

A grande chave para se dar bem no futevôlei, segundo Natália, é aquele segredo de qualquer esporte: repetição. Parece papo de técnico, mas ela reforça que, por ser um esporte difícil, com o qual não estamos tão acostumados, o melhor caminho para se tornar um(a) bom(a) jogador(a) é treinar, e treinar, e treinar.

"É uma técnica bem diferente. Tem que treinar. Eu quando comecei não jogava direito, mas persisti muito em melhorar e fui evoluindo. Repetição, o melhor treino é repetição. É como qualquer esporte. tem que ser persistente", afirmou.

Para as mulheres, uma dificuldade que costuma ser mencionada pelas iniciantes é dificuldade da bola no peito. Mas Natália conta que há uma técnica importante para evitar a bola bater numa região onde pode machucar. "As mulheres costumam usar o ombro, na maioria das vezes. Mas dá para fazer a técnica de receber de peito. Só que, na verdade, a bola não bate no peito, ela bate em cima do peito, no colo. Óbvio, você que vai treinar, não vai tentar dar de peito sozinha, vai com um treinador, porque pode ser que machuque e não é legal. Mas com uma instrução, é possível aprender direitinho e aí vira uma opção para receber a bola, porque amortece melhor. Quando você usa o ombro, corre o risco de espirrar".

Entre os fundamentos, outro bem desafiador (tanto para homens, quanto para mulheres) é o chamado "shark ataque", em que a pessoa salta e cai para trás e coloca o pé por cima da bola, fazendo o movimento de cima para baixo. Um recurso que só os mais habilidosos conseguem fazer. Natália é uma das únicas mulheres que já conseguem aplicar esse golpe.

 

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Todo esforço tem sua recompensa!. • Variação de ataque + Shark ( tá saindo 🙏🏻). Treino das 8:30 @teamaguia ✅. • Faça sua sorte 👊🏻

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"Pouquíssimas mulheres dão esse golpe, é um movimento bem difícil. Mas é um recurso. Você tem que colocar o pé em cima da bola como se fosse cabecear, ele dá um ataque com a sola do pé. Aí fica bem difícil pegar se você conseguir fazer certo".

Com toda essa habilidade, Natália Guitler já convoca Neymar e Nenê para a partida de desempate. "Eles têm muito recurso, foi um jogo difícil e naquele dia estava muito quente. Mas a gente quer mais uma para desempatar", brincou.

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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