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Cristiane vira embaixadora do futebol: “Chuteiras podem inspirar meninas”

Renata Mendonça

23/02/2019 10h13

Cristiane com sua chuteira personalizada (Foto: dibradoras)

A atacante Cristiane vive uma nova fase da carreira. De volta ao Brasil por opção – ela tinha proposta do Barcelona, mas optou por jogar no São Paulo para ficar mais perto da família -, a camisa 11 da seleção brasileira quer ajudar o futebol feminino a crescer por aqui neste novo momento da modalidade, que agora conta com investimento dos clubes grandes por conta da obrigatoriedade da Conmebol.

Como jogadora do São Paulo, Cristiane não será apenas um reforço em campo, mas também fora dele para promover a nova equipe de futebol feminino do clube. A oportunidade abriu também as portas para a atacante na Adidas, fornecedora de material esportivo do São Paulo, que viu em Cristiane a oportunidade de aproveitar o mercado das mulheres, que está em alta no futebol. Na última sexta-feira, a jogadora assinou contrato com a marca para ser embaixadora no Brasil.

"Acho que é algo muito importante pra minha carreira e principalmente para o futebol feminino. Porque assim como os meninos olham os jogadores e querem usar as chuteiras deles, as meninas agora poderão olhar e falar: eu quero essa chuteira da Cristiane", afirmou a atacante às dibradoras.

Pode parecer algo irrelevante, já que ter contrato com uma marca esportiva é algo "normal" no universo do futebol masculino. Mas no feminino isso ainda é raro de acontecer. Muitas vezes, nem mesmo as principais jogadoras do mundo têm uma fornecedora oficial de material ou são embaixadoras de alguma marca. A própria Cristiane, que é a maior artilheira da história da Olimpíada e uma das grandes jogadoras de futebol que surgiram na última década, até agora não tinha contrato com nenhuma marca nesse sentido. Ela conta que tem jogadora até na seleção brasileira que precisa comprar chuteira para jogar.

"Tem jogadora que não tem nem a marca pra fornecer. Ela tem que ir lá e comprar a chuteira. Jogadora de seleção. E é chato né, porque é seu instrumento de trabalho, e é uma coisa cara. Acho que isso pode servir de alerta para as marcas perceberem que as atletas precisam, que é importante e que é legal também para promover o futebol para as mulheres. Elas também querem chuteira, elas também compram", pontuou a jogadora.

(Foto: Sow Sports)

"Chuteiras também podem inspirar meninas a quererem um dia estar ali, jogando. Então fica uma coisa legal pra marca também", disse.

Chuteira, aliás, é algo que sempre foi uma dificuldade para as mulheres de encontrar. Primeiro porque até pouco tempo atrás as marcas não fabricavam chuteiras "de adulto" em numeração menor. Era tudo pensado para homens e, sendo assim, não tinha por que fabricar um par tamanho 35. 

"Já ouvi muitas mulheres reclamando de não encontrar chuteira do tamanho que elas calçam ou então não encontrarem um formato que calce bem nos seus pés. Essa é uma preocupação que as marcas começam a ter agora e é legal isso para que mais mulheres possam jogar e se interessar pelo futebol", afirmou Cris.

Outra reclamação comum é a abordagem de vendedores nas lojas. Quando uma mulher entra e pede para ver chuteiras, a resposta costuma ser: "não temos chuteiras femininas". Mas o que é chuteira feminina afinal? "A trava é diferente? Não. Não tem diferença, chuteira é chuteira, a gente usa as mesmas que as deles", observou a atacante.

Esse pensamento começa a mudar hoje em dia, com as marcas produzindo chuteiras com numeração menor e pensando também no público feminino. É aí que Cristiane entra no planejamento da Adidas – a marca explica que utilizará a atacante em todos os lançamentos de produto, como uma ideia de promovê-los também para as mulheres, mostrando o interesse em atingir um público que normalmente fica esquecido.

Cristiane entende sua importância nisso e quer fazer parte dessa nova "fase" do futebol feminino no Brasil. "Na minha época, era difícil ver meninas jogando. Hoje já é comum ver em todo lugar. Então eu estou aqui pra isso, no que eu puder ajudar a promover a modalidade, eu vou ajudar".

Ainda não há data certa para a estreia de Cristiane pelo São Paulo. Ela foi cortada da seleção por um problema na panturrilha, mas em breve estará treinando novamente e se preparando para um ano que promete: a camisa 11 jogará sua última Copa do Mundo neste ano, a partir de 7 de junho, na França. 

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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