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Em ano de Copa, futebol feminino está começando a virar negócio

Renata Mendonça

20/02/2019 08h35

Marta e Cristiane são parceiras de seleção há pelo menos 15 anos (Foto: Divulgação Mowa Press)

Já virou clichê repetir por aí que o futebol feminino "é chato", que "ninguém quer ver", que "ninguém quer patrocinar", etc, etc, etc. Mas hoje já é possível dizer que as mulheres estão derrubando cada uma dessas premissas. Menos a primeira, claro, porque ela na verdade é um clichê falso e preconceituoso.

O ano de 2018 já terminou com a notícia de que a TV Globo irá, pela primeira vez na história, exibir todos os jogos da seleção brasileira na Copa do Mundo de futebol feminino. E se a maior rede do país de maneira inédita se interessou em mostrar esses jogos – que acontecerão durante a Copa América masculina aqui no Brasil -, não é por caridade. É porque o interesse despontou – do público e das marcas, já que os espaços de publicidade nos intervalos das transmissões foram vendidos com sucesso.

E quanto aos patrocínios, eles também estão começando a aparecer. O universo de "negócio" do futebol feminino ainda é bem peculiar se comparado ao masculino por conta da diferença de visibilidade e mídia, então enquanto os jogadores contam com seus patrocinadores pessoais, as jogadoras sonham que ao menos os clubes onde irão jogar tenham patrocinadores. Mas neste ano, essa realidade parece estar em transformação.

Com a Copa do Mundo acontecendo de 7 de junho a 7 de julho na França, algumas marcas, principalmente aquelas relacionadas a materiais esportivos, buscaram alternativas de aparecer nesse mercado do futebol feminino investindo nas mulheres. Se entre os homens, Nike e Adidas disputam entre elas quem irá patrocinar os melhores jogadores, em 2019 isso começa acontecer com as jogadoras também.

Foto: Minas Panagiotakis/Getty Images/AFP

Marta, por exemplo, era uma das poucas atletas do futebol feminino que tinha uma fornecedora de material esportivo. Só que ela rompeu o contrato com a Puma em outubro do ano passado. A partir daí, começou uma longa negociação com a Nike, que deve anunciá-la oficialmente em breve. A chegada de Marta é muito significativa em um ano de Copa do Mundo e justamente quando a patrocinadora das seleções (masculina e feminina) irá pela primeira vez fazer um lançamento exclusivo para a seleção feminina do uniforme a ser utilizado no Mundial.

Em 2015, às vésperas da Copa, a Nike até chegou a lançar um uniforme 2 só para a seleção feminina, azul, mas optou por não vender as camisas, mesmo após uma grande campanha nas redes sociais de torcedores pedindo a comercialização. A justificativa da marca à época em contato com as dibradoras foi de que "numa decisão estratégica do negócio, as novas camisas não serão comercializadas".

No entanto, diante do "boom" recente do futebol feminino, com mais marcas abraçando a causa e com a proximidade da Copa do Mundo na França, a estratégia da Nike para 2019 se voltou justamente para a seleção feminina e, além do uniforme especial para o Mundial, a marca terá uma campanha toda voltada para as mulheres.

A Adidas, maior concorrente da Nike, também não ficará atrás nessa. A marca anunciará o acordo com Cristiane ainda nesta semana e terá, pela primeira vez, uma jogadora de futebol no Brasil como "embaixadora".

Então agora, se no futebol masculino Cristiano Ronaldo é Nike, e Lionel Messi é Adidas; Neymar é Nike e Gabriel Jesus é Adidas; no feminino as duas também protagonizarão essa disputa, agora com Marta na Nike, e Cristiane na Adidas. A primeira, a maior artilheira da Copa, a segunda a maior artilheira da Olimpíada – dá para dizer que ambas as marcas estão bem servidas.

Esse tipo de investimento mostra o quanto o futebol feminino está começando a entrar no planejamento das marcas como uma oportunidade de negócio e de mercado. Com a Copa do Mundo sob holofotes agora, a modalidade entra no radar do marketing esportivo de vez – e esperamos que para ficar.

O 'mistério' de Marta

Na última terça-feira, dia de seu aniversário de 33 anos, Marta amanheceu com um post enigmático em seu instagram.
"Comunico a todos uma decisão importante: este ano, vou me dedicar à minha família. Afinal, família vem sempre em primeiro lugar. Obrigada pelo apoio de sempre", escreveu.

 

A declaração deixou muita gente de com a pulga atrás da orelha por causa do tom de "despedida", e a foto de publicada por Marta, de costas, vestindo uma camisa nº 10 em preto e branco com uma torcida enorme de fundo, recebeu uma enxurrada de comentários de fãs, atletas, celebridades e até mesmo de jornalistas.

Uns desesperados pedindo para que a Rainha seguisse no futebol ao menos para jogar a Copa do Mundo neste ano na França, outros agradecendo a contribuição dela para o esporte.

A reportagem do dibradoras apurou com a CBF se a jogadora havia decidido deixar a seleção brasileira e a resposta foi negativa. Entramos em contato com o Orlando City para entender se a camisa 10 havia rompido o contrato com o clube dos Estados Unidos, e essa possibilidade também foi descartada. Logo em seguida, o próprio Orlando entrou na brincadeira em suas redes sociais com um repost da foto de Marta dizendo "We know we're family too" ("Nós sabemos que somos família também", em tradução livre).

Então passamos a pensar que aquele anúncio poderia ser algo relacionado a um anúncio publicitário disfarçado. E não é que era mesmo? A jogadora anunciou hoje que fará parte da "The Umbrella Academy", série da Netflix. Mais um espaço de visibilidade para o futebol feminino e uma forma de "comercialização" da modalidade como um produto. Sinal de que o futebol feminino está finalmente sendo visto como um negócio.

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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