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Não vou deixar que me impeçam de trabalhar, diz repórter após assédio

Renata Mendonça

15/02/2019 18h42

Quase um ano após o movimento das jornalistas esportivas "Deixa Ela Trabalhar" vir à tona, os casos de assédio com as repórteres seguem acontecendo. Desta vez, a vítima foi Karine Alves, da Fox Sports, que estava em frente ao Maracanã para trazer informações sobre o Fla x Flu da última quinta-feira.

Enquanto trazia as informações sobre o jogo e a homenagem que seria feita aos garotos mortos no incêndio do Ninho do Urubu, Karine tentava fugir de um torcedor que insistia em aproximar-se dela no vídeo. Até que ele invadiu a cena e tentou beijar seu rosto à força. A repórter conseguiu se desvencilhar e, brilhantemente, seguiu fazendo seu trabalho, passando as informações sem nem titubear. O homem saiu de cena e todos os que estavam perto assistiram à cena sem dizer nada.

+Fox lamenta assédio sofrido por repórter e diz que está tomando medidas legais

Infelizmente, como diz aquela expressão: nada de novo no front para nós, mulheres, que atuamos no Jornalismo Esportivo. E mesmo um ano depois da indignação coletiva do movimento Deixa Ela Trabalhar, que fez com que muitos repensassem e entendessem o quão erradas são atitudes como essas, elas seguem acontecendo. Nesta sexta-feira, Karine se posicionou pelo seu instagram e pediu aquilo que deveria ser o básico – e o óbvio: respeito.

 

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Primeiro: MUITO OBRIGADA por todas mensagens de apoio e carinho que recebi em relação ao que aconteceu comigo na entrada ao vivo durante a cobertura do FLA x FLU. É sobre o respeito à profissão do próximo. Sou mulher, mas também jornalista, apresentadora e repórter. Ninguém tem o direito de desrespeitar uma pessoa, ou alguém durante o trabalho…seja forçando um contato físico, como um beijo ou abraço, quando não há consentimento. O nome correto para isso é importunação sexual. Levar informação ao telespectador é a minha missão diária. E ela foi prejudicada em pleno Maracanã por um torcedor que não soube respeitar o meu trabalho. Só quero poder exercer minha função de jornalista em qualquer lugar que eu estiver trabalhando. Seguirei fazendo as coberturas de jogos nos estádios sempre que for escalada para isso, com o mesmo profissionalismo. Por isso, não posso permitir que alguém tente me impedir de exercer a minha profissão da melhor forma possível. O esporte entrou na minha carreira desde cedo. O futebol e eu estamos no mesmo time há mais de 12 anos. E em time que está vencendo não se mexe… se "treina" muito pra ganhar de qualquer adversário seja qual for o campo, na frente ou atrás das câmeras. Quanto ao que aconteceu no FLA x FLU, nesta quinta-feira, já tomei todas as providências legais cabíveis que estavam ao meu alcance. Ah! E eu escolhi colocar esta foto no post, porque é essa imagem que desejo que o telespectador possa ver: uma repórter exercendo o seu trabalho com dignidade. #jornalismo #trabalho #reportagem #maisrespeito #futebol

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"Primeiro: MUITO OBRIGADA por todas mensagens de apoio e carinho que recebi em relação ao que aconteceu comigo na entrada ao vivo durante a cobertura do FLA x FLU. É sobre o respeito à profissão do próximo. Sou mulher, mas também jornalista, apresentadora e repórter. Ninguém tem o direito de desrespeitar uma pessoa, ou alguém durante o trabalho…seja forçando um contato físico, como um beijo ou abraço, quando não há consentimento. O nome correto para isso é importunação sexual", afirmou a repórter.

"Levar informação ao telespectador é a minha missão diária. E ela foi prejudicada em pleno Maracanã por um torcedor que não soube respeitar o meu trabalho. Só quero poder exercer minha função de jornalista em qualquer lugar que eu estiver trabalhando. Seguirei fazendo as coberturas de jogos nos estádios sempre que for escalada para isso, com o mesmo profissionalismo. Por isso, não posso permitir que alguém tente me impedir de exercer a minha profissão da melhor forma possível."

É difícil entender o que pode levar uma pessoa a se achar no direito de interromper o trabalho de uma mulher para forçar um beijo em meio a uma gravação. Não há absolutamente nenhuma justificativa plausível para uma atitude como essa. Já não teria justificativa mesmo que ela não estivesse ao vivo, dado que um beijo só pode ser dado se houver consentimento ou alguma demonstração que o permita – ninguém gosta de 'beijo roubado' de desconhecido. E a coisa só se agrava quando entendemos que Karine estava ali tentando simplesmente exercer sua profissão. Algo que, para as mulheres que atuam no Jornalismo Esportivo, é um grande desafio diante da quantidade de situações como essa pelas quais elas acabam passando.

"O esporte entrou na minha carreira desde cedo. O futebol e eu estamos no mesmo time há mais de 12 anos. E em time que está vencendo não se mexe… se "treina" muito pra ganhar de qualquer adversário seja qual for o campo, na frente ou atrás das câmeras. Quanto ao que aconteceu no FLA x FLU, nesta quinta-feira, já tomei todas as providências legais cabíveis que estavam ao meu alcance. Ah! E eu escolhi colocar esta foto no post, porque é essa imagem que desejo que o telespectador possa ver: uma repórter exercendo o seu trabalho com dignidade", reforçou a jornalista da Fox.

Não é possível que em 2019 as mulheres ainda terão de passar por esse tipo de constrangimento, de violência, para pura e simplesmente seguirem exercendo seu direito de trabalhar. É inaceitável que a gente precise escrever aqui de novo sobre o quão repudiável é esse tipo de atitude. "Olha, você não pode beijar a coleguinha que você não conhece sem o consentimento dela, ok?" – alguns homens parecem pedir para que os tratem da maneira mais infantil possível, não é mesmo?

O recado aqui não poderia ser mais simples e direto: Deixa Ela Trabalhar.

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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