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São Paulo teve 20 eliminações, 14 técnicos e coleciona vexames em 7 anos

Renata Mendonça

14/02/2019 08h31

Foto: AGIF

O São Paulo protagonizou na noite desta quarta-feira um vexame histórico. Essa frase deve ter sido a mais usada para se referir ao clube do Morumbi nos últimos sete anos, trocando apenas o dia da semana em que o vexame se concretizou. Desta vez, foi contra o Talleres. São 20 eliminações em mata-mata de 2012 até aqui, sendo pelo menos 6 delas vergonhosas. Foram 14 técnicos de lá para cá, incluindo 19 trocas de treinador, considerando os auxiliares que assumiram entre um e outro.

De tudo isso, o São Paulo não conseguiu tirar nenhum título. Nenhum vice-campeonato em campeonatos eliminatórios (houve o vice do Brasileiro em 2014 nos pontos corridos). E, principalmente, nenhum time que realmente jogasse o futebol daqueles que já encantaram o torcedor do clube que é um dos mais vencedores do país. Pior: de tudo isso, o São Paulo conseguiu "fritar" pelo menos três ídolos (Rogério Ceni, Lugano e Raí) e queimar um técnico promissor que fez um trabalho indiscutível na base. Todos esses são escudos de uma diretoria que sequer apareceu para se manifestar diante do vexame contra o Talleres e que segue no comando há décadas – até houve uma dissidência com o impeachment de Aidar, mas hoje os que se levantaram contra o então presidente à época estão abraçados com Leco sem cobrá-lo de nada.

Por tudo isso, é preciso analisar todo o contexto que levou o São Paulo a esse buraco. Será que o problema é realmente Jardine? Até acho que ele fez escolhas erradas na escalação desta quarta (nas alterações também) e que não conseguiu organizar minimamente o time em campo em 2019. Mas a solução dos 7 anos de seca – e de vexames acumulados – está simplesmente na derrubada do técnico? 

Vejamos: o São Paulo foi eliminado para a Ponte Preta em 2013 na Sul-Americana em dois jogos vergonhosos em que o time não propôs nada – o técnico era Muricy Ramalho; depois foi eliminado para o Bragantino na terceira fase da Copa do Brasil em 2014 jogando um futebol medíocre – o técnico era ainda Muricy; aí veio a eliminação nas quartas-de-final do Paulista para o modesto Penapolense nos pênaltis em pleno Morumbi – o técnico era o mesmo Muricy; então veio a queda para o Juventude nas oitavas da Copa do Brasil em 2016 – o técnico era Ricardo Gomes; as quartas do Paulista no mesmo ano com eliminação para o Audax com direito a goleada por 4 a 1 – o técnico era Edgardo Bauza; a queda vexaminosa para o Defensa y Justicia da Argentina na primeira fase da Sul-Americana em 2017 – o técnico era Rogério Ceni; eliminação na segunda fase da mesma Sul-Americana para o pequeno Colón – o técnico era Diego Aguirre; e por fim o vexame diante do Talleres na pré-Libertadores – o técnico é André Jardine.

Foto: Divulgação

Percebam a quantidade de técnicos mencionados nessa sequência de vexames colecionados. Fora que, nesse meio-tempo, houve o acúmulo de eliminações para os principais rivais nas semifinais do Paulista (quando chegou lá) – três para o Corinthians, uma para o Santos -, e o fato de que o clube do Morumbi não sabe o que é chegar a disputar um título estadual desde 2005, quando o campeonato ainda era por pontos corridos.

Houve todo tipo de vexame de lá para cá manchando a história do São Paulo. Quedas para times de divisões inferiores (ou de nenhuma divisão), mas o pior de tudo: sem jogar bola. Há quanto tempo o torcedor não vê um São Paulo protagonista em campo, que exibe um futebol que faça jus a uma história tão vencedora? A apatia dos times nos últimos sete anos se manteve, independentemente do elenco em campo ou do técnico no comando.

São Paulo acumulou eliminações para o Corinthians (Foto: Reuters)

Toda a soberania acumulada entre os anos 1990 e 2000, aquela pretensão de se achar o melhor do Brasil, o que tem mais estrutura, o clube "diferenciado" jogou contra o São Paulo e a favor dos rivais, que evoluíram e o deixaram para trás – bem para trás considerando as conquistas de Palmeiras, Corinthians e Santos nos últimos anos e a seca do clube do Morumbi. E enquanto todos eles se reinventavam, se reestruturavam em meio a quedas para segunda divisão e também alguns vexames, o São Paulo seguia se achando "diferente". E seguia o enredo que o levaria para o buraco: trocas consecutivas de técnico, falta de planejamento, falta de coerência nas atitudes da diretoria, quebras de elenco no meio da temporada, pressão por resultados sem se organizar para que eles pudessem vir.

Está muito fácil apostar no que vai acontecer com o São Paulo em 2019: queda do técnico, queda no Paulista na semifinal (se muito), briga no Brasileiro para ficar entre entre o quinto e o 15o lugar, venda precoce dos novos talentos que começarem a brilhar no principal, e tudo isso até que um novo vexame venha ocupar o lugar do Talleres como o maior da história tricolor. Quem achar que é exagero, é só olhar os últimos anos. O roteiro está escrito e o São Paulo o segue à risca desde 2012/2013 (a última conquista).

Nem o ídolo Rogério Ceni sobreviveu aos desmandos do São Paulo no comando técnico (Foto: AGIF)

Só vai ser diferente quando o São Paulo se propuser a fazer diferente. Quando seus medalhões da diretoria assumirem os erros e recomeçarem do zero. Quando houver o mínimo de planejamento para uma temporada acreditando na proposta de jogo de um treinador e dando o apoio a ele para realizá-la com suas convicções (e não com as convicções dos dirigentes). É escolher um técnico para uma temporada e ouvi-lo sobre as contratações em vez de contratar a bel prazer sem alinhar nada com as expectativas do comandante. 

São tantos erros acumulados no São Paulo, que na minha opinião, Jardine é só mais um coadjuvante nesse filme de vexames que o São Paulo produz todos os anos desde 2012. Os protagonistas são outros. A troca do técnico atende ao anseio de uma torcida desesperada e cansada de passar vergonha, mas é só mais uma maquiagem para uma crise anunciada que afunda o clube há 7 anos. O São Paulo precisa se reinventar e se fazer grande de novo. 

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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