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A estratégia do City para promover time feminino junto com o masculino

Roberta Nina

06/02/2019 10h45

Divulgação dos jogos masculino e feminino no dia 10/2, ambos contra o Chelsea (Foto: Reprodução/Manchester City)

No próximo domingo (10/02), a cidade de Manchester será palco de dois grandes jogos de futebol. O time feminino e o masculino do City entrarão em campo para enfrentar o mesmo adversário, o Chelsea. Esta é a primeira vez que as equipes da cidade jogarão contra o mesmo adversário, em casa e no mesmo dia.

A partida da equipe feminina começará às 13h (horário local) e será realizada no The Academy Stadium – um campo que faz parte do complexo esportivo do Etihad Campus. Já o jogo masculino começará logo depois, às 16h, no Etihad Stadium.

"Vai ser um dia enorme para nós. É uma ótima oportunidade para nossos fãs virem e verem as duas equipes", disse a capitã do time feminino e da seleção inglesa, Steph Houghton ao The Guardian.

(Foto: Reprodução/Manchester City)

Com isso, o City terá a grande oportunidade de promover suas duas equipes de uma só vez. Ter o jogo feminino como preliminar do masculino é uma ideia que muitos torcedores propõem inclusive aqui no Brasil e, na Inglaterra, com certeza o modelo será um teste para partidas futuras.

De acordo com Gavin Makel, chefe do futebol feminino, a rodada dupla das equipes de Manchester é uma tentativa para analisar se há interesse pelo futebol praticado pelas mulheres. "Este ano fizemos um esforço concentrado para ver se isso era algo que poderíamos fazer. É uma curva de aprendizado interessante para todos. Estou esperando muito do jogo. Se funcionar bem, vamos analisá-lo, falaremos com a FA e veremos se isso é algo que poderíamos implementar de forma mais consistente", declarou o dirigente ao jornal britânico.

Makel sabe que o desafio é grande, mas é importante colocar em prática e respeitar as diferenças que cada gênero impõe. "Estamos 100 anos atrás do equivalente ao masculino e há muitos caminhos que temos de descer antes de chegarmos perto de recuperar o atraso. Uma vez que você percebe que não é tão técnico, ou tão rápido, ou tão físico quanto o jogo dos homens e foca no espetáculo esportivo, então começaremos a progredir", afirmou.

Gavin Makel, dirigente de futebol feminino do City (Foto: Reprodução/Manchester City)

"O tênis foi nessa jornada evolucionária com Billie Jean King à frente. As pessoas agora assistem à final feminina de Wimbledon tanto quanto os homens e gostam das mulheres por direito próprio. É o seu próprio jogo. Estamos alinhando, mas também não necessariamente queremos seguir o jogo dos homens. Obviamente, há coisas que podemos tirar disso, mas, como esporte e liga feminina, precisamos olhar para nós mesmos e o que funciona para nós."

#SameGols

No início desta semana, o Manchester City retomou a campanha de sucesso #SameGoals que já havia realizado no ano passado. Sob o mote "Same City, Same Passion" ("Mesmo City, Mesma Paixão", em tradução livre), o clube inglês tem como propósito democratizar o acesso ao futebol e defende que o esporte é o mesmo, seja ele jogado por homens ou por mulheres.

Para este ano, o engajamento proposto pelo clube de Manchester vai além. Mais do que incentivar as garotas a publicarem seus vídeos fazendo gols ou defesas, o clube vai premiar cada participante com uma bola, como forma de agradecimento. 

vídeo de divulgação da campanha incluiu os atletas das equipes feminina e masculina para reforçar a ideia de que futebol é apenas futebol, independente do gênero.  

Para participar, as garotas devem postar seus vídeos no Twitter ou Instagram, usando a #SameGoals. Buscando pela hashtag nas redes sociais, já são inúmeras as postagens de meninas e mulheres que foram impactadas pela inciativa. 

Muito além da internet

As ações do Manchester City para fomentar o futebol feminino são constantes. Neste ano, o clube inglês irá sediar uma série de festivais de futebol em diversos  países, como Estados Unidos, Abu Dhabi e China – incluindo, é claro, Manchester. A ideia é proporcionar às meninas ainda mais oportunidades de jogar futebol, até mesmo em suas comunidades locais.

O festival #SameGoals do Reino Unido acontece no dia 9 de março na City Football Academy, local onde todas as equipes do City treinam. As crianças e suas famílias poderão aproveitar uma série de atividades de futebol, incluindo desafios de habilidades, clínicas de treinamento ministradas por treinadores da City Football Schools e mini torneios.

(Foto: Manchester City)

A inscrição é gratuita e os detalhes sobre como se inscrever e resgatar tíquetes serão compartilhados no site do clube nas próximas semanas.

A jogadora Steph Houghton valorizou a iniciativa do clube e espera que a campanha deste ano seja ainda melhor. "O futebol é um esporte tão incrível para participar. É divertido, uma ótima maneira de fazer amigos e ajuda você a se manter em forma e saudável. Esperamos que o Same Goals incentive ainda mais garotas a darem uma chance ao futebol e verem como é incrível", afirmou ao site da equipe.

"O número de inscrições enviadas no ano passado foi inacreditável ​​e eu espero que todas as garotas continuem praticando e tenham alguns truques e habilidades para nos mostrar este ano!", finalizou.

A jogadora Steph Houghton (Foto: Reprodução/Twitter FAWSL)

Gavin Makel também reforçou que o trabalho do clube em fomentar o futebol feminino cresce cada vez mais. "Ao hospedar uma variedade de festivais de futebol em diferentes locais do mundo, incluindo Manchester, América e China, esperamos trazer o jogo para mais perto de garotas em todos os lugares. No Manchester City, estamos empenhados em inspirar a próxima geração de jogadoras, proporcionando-lhes oportunidades de jogar e mostrando-lhes que existe um caminho para o nível de elite", afirmou.

Segundo Makel, na última temporada, a fundação local da equipe inglesa, City in the Community, entregou programas de futebol para quase 15.000 meninas e mulheres em toda a Grande Manchester.

Aproveitando a ótima oportunidade de rodada dupla no próximo domingo, o clube realizará ações do #SameGoals no Campus Etihad, no dia dos clássicos masculino e feminino contra o Chelsea.

O reflexo na seleção inglesa

É notável perceber como o futebol feminino da Inglaterra evoluiu nos últimos anos, mais precisamente de 2012 pra cá. Atual quarta colocada no ranking da FIFA, o país se empenhou em difundir melhor a modalidade e, para isso, governo e federação (FA) se uniram em torno de um plano chamado Game Changer ("Mudança de Jogo", na tradução livre) com o objetivo de fazer o futebol feminino se tornar o 2º esporte mais popular do país em cinco anos.

Seleção inglesa rumo à sua quarta Copa do Mundo (Foto: Reprodução/Twitter Lionesses)

As ligas se fortaleceram, mais times de camisa passaram a investir na modalidade, os campeonatos passaram a contar com equipes em duas divisões e os recordes de público começaram a surgir.

Para além dos clubes, a Federação proporcionou para a seleção inglesa um grande centro de excelência para formar jogadoras(es) e técnicas(os) que, no futuro, poderão estar brilhando com o English Team. 

Com apenas quatro participações em Mundiais (1995, 2007, 2011 e 2015) a seleção feminina foi semifinalista na última Copa do Mundo realizada no Canadá e chega entre as mais cotadas ao título deste ano no Mundial da França.

Antes de estrear na Copa do Mundo, a seleção britânica disputará a She Believes Cup (entre 27 de fevereiro e 05 de março) enfrentando o Brasil, Estados Unidos e Japão.

Além disso, já tem marcado outros quatro amistosos que serão jogados na Inglaterra contra fortes equipes, fazendo com que o público se aproxime ainda mais do selecionado nacional antes do Mundial. As equipes que enfrentará serão Canadá (05/04), Espanha (09/04), Dinamarca (25/05) e Nova Zelândia (01/06).

Com certeza, ações como a #SameGoals refletem no desenvolvimento da modalidade no país e consequentemente na seleção. Encorajar as garotas, – e suas famílias – mostrando que o futebol também pode ser praticado por elas é o primeiro grande passo para um futuro brilhante no esporte. 

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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