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CBF exibe homenagem a Marta em fachada de sede no Rio

Renata Mendonça

04/10/2018 11h33

Foto: Mowa Press

Na manhã desta quinta-feira, o prédio da sede da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) no Rio de Janeiro amanheceu assim, com a foto gigante de Marta estampada na fachada em uma homenagem à jogadora mais premiada da história do futebol. Com o troféu de melhor do mundo conquistado na Fifa na semana passada, Marta se tornou a atleta com o maior número de premiações da entidade máxima do futebol – entre homens e mulheres.

Nada mais justo do que exibir na porta de entrada, como cartão de visitas, a melhor jogadora de todos os tempos – que, para nossa sorte, ainda joga com a nossa camisa. A maior artilheira da história da seleção brasileira – sim, ela tem mais gols que Pelé. Aquela que foi (é) seis vezes melhor do mundo, sendo cinco delas de forma consecutiva. Que tem 14 indicações ao prêmio da Fifa, em 16 ou 17 anos de carreira. Aquela que a gente poderia passar infinitos parágrafos descrevendo as conquistas, os recordes, a genialidade.

E, finalmente, Marta foi lembrada pela CBF. Porque ali dentro mesmo, no museu que ela fez para a seleção brasileira, a maior artilheira do Brasil foi praticamente esquecida. Tem ali uma menção ao Pan Americano de 2007 conquistado em casa. De resto, fala-se dos grandes Pelé, Garrincha, e tantos outros que fizeram a história do nosso futebol, e até mesmo de Neymar, mas o espaço dedicado à história da seleção feminina não existe – e Marta, junto com essa história, é ignorada.

Foi ignorada, inclusive, por muito tempo, já que a própria CBF não contabilizava os gols que a Rainha marcava com a camisa amarela. Até bem pouco tempo atrás, nenhuma importância era dada aos recordes que ela poderia conquistar. Então é louvável que hoje a CBF tenha "acordado" para valorizar a importância de Marta para o futebol brasileiro. É admirável que ela se orgulhe de estampar a fachada de sua sede com o rosto dessa mulher, que já enfrentou tantos e tantos preconceitos para poder chegar até lá. Mas é claro que não pode parar por aí.

Porque não é uma foto na entrada de um prédio que vai apagar as décadas de descaso com o futebol feminino no país. Os anos de não investimento, as diferenças de pagamento (nas diárias da seleção feminina e masculina), as trocas de técnico repentinas, os cargos distribuídos entre pessoas que nunca atuaram na modalidade, as competições que por muito tempo não foram organizadas ou cuidadas da forma correta, etc, etc. Já melhorou um pouco, mas ainda há muito que a CBF precisa fazer para além de uma homenagem.

O que Marta quer de verdade não é ver seu rosto na fachada de um prédio, mas sim ver o futebol feminino sendo valorizado e encarado de forma séria no Brasil. A homenagem é digna, é válida e necessária, mas é preciso ir além dela para devolver à Marta ao menos um pouco do tanto que ela já fez pelo futebol brasileiro.

De qualquer forma, hoje e dia de reverenciar a Rainha, seis vezes melhor do mundo. Obrigada, Marta, e desculpa qualquer coisa (talvez essa fosse a frase mais adequada para o poster da CBF).

 

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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