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Com futebol feminino, Santos tem maior público do ano na Vila

Renata Mendonça

03/10/2018 06h17

Foto: Santos FC

Conhecida como um "caldeirão" ou "alçapão" para os times adversários, a Vila Belmiro sempre foi um trunfo do Santos no futebol. Se essa já era a realidade para o time masculino, agora pode-se dizer que já é também uma força para a equipe feminina, conhecida como Sereias da Vila. Foi delas, afinal, o maior público do clube no estádio da Baixada Santista em 2018.

O recorde veio no primeiro jogo da final do Paulista feminino disputada na noite desta terça-feira, entre Santos e Corinthians – vencido pelas donas da casa por 1 a 0. A entrada era gratuita – como sempre é nos jogos do feminino -, mas desta vez o horário de 20h30 e a forte divulgação do clube ajudaram o estádio a lotar para apoiar as mulheres. O público total foi de 13.867, o maior do Santos no ano em jogos disputados na Vila Belmiro.

Até então, o recorde de 2018 no estádio da Baixada havia sido o de Santos x São Paulo, já no returno do Campeonato Brasileiro, no empate por 0 a 0, quando 13.488 pessoas estiveram nas arquibancadas.

Foto: Santos FC

Com alguns dos jogos mais importantes do ano mandados no Pacaembu, o público do futebol feminino só perde mesmo para as partidas disputadas pelo time masculino do Santos em São Paulo. Na Vila, nem os jogos da Libertadores (o maior público havia sido para Santos e Estudiantes na primeira fase, quando 10.969 estiveram no estádio), nem mesmo a fase final da Copa do Brasil (quartas-de-final contra o Cruzeiro) tiveram tantos torcedores presentes.

No ano passado, o futebol feminino já tinha registrado um dos maiores públicos do Santos na temporada também mostrando o potencial da modalidade. Aconteceu na final do Campeonato Brasileiro, quando as Sereias enfrentaram também o Corinthians na decisão. Na ocasião, o estádio ficou completamente abarrotado e ainda restou uma fila para fora de gente que não pode entrar porque o número de presentes já havia alcançado a lotação máxima. Foram praticamente 16 mil pessoas que estiveram na Vila para presenciar os 2 a 0 em cima do rival que ajudaram a sacramentar o título conquistado no jogo da volta em Osasco.

Desta vez, restaram alguns poucos lugares não preenchidos na tribuna, mas praticamente todos os setores do estádio estavam cheios. As torcidas organizadas também compareceram, e o clima dentro da Vila era digno de um clássico naquele caldeirão, com os torcedores pulsando no ritmo das Sereias em campo.

"Quando o estádio está cheio assim, não tem como as jogadoras não sentirem. Ainda mais no futebol feminino, que não é todo dia que temos um estádio cheio assim para jogar. É muito legal ver isso, mostra que estamos evoluindo e vai aumentando o sarrafo, para que no ano que vem a gente possa conquistar ainda mais", avaliou Aline Pellegrino, ex-jogadora da seleção e do próprio Santos e coordenadora de futebol feminino da Federação Paulista de Futebol, que esteve na Vila Belmiro nesta terça.

Na entrada do estádio, também foi possível perceber a presença de muitas crianças e famílias na partida. Meninas vestidas com o uniforme todo santista, algumas que jogam bola e se inspiram nas Sereias projetando o futuro que gostariam de viver. Senhoras como a famosa "vovó do Santos", uma figurinha carimbada da Vila que também esteve ali para prestigiar as mulheres.

Foto: dibradoras

"Quando o Santos joga, nada mais importa. E não tem essa de time masculino, time feminino, base. Todos são Santos, e é uma alegria vir aqui torcer para elas também, que honram muito nossa camisa", disse a torcedora, exibindo as fotos que tirou com as jogadoras em campo nesta temporada.

É bonito demais ver um estádio assim no futebol feminino. Um jogo num horário ótimo – se os do masculino no meio da semana acabam sendo mais tarde, às 21h45, no feminino costuma ser cedo demais, às 15h de uma quarta-feira, por exemplo -, que foi bem divulgado, com o Santos usando suas redes sociais para convocar a torcida com vídeos de jogadores (Gabigol, Rodrygo, Pituca), ídolos (Renato, hoje executivo do clube, e Sole James, artilheira do ano passado), celebridades (o cantor Supla e a atriz e modelo Pathy de Jesus), é possível explorar o potencial do futebol feminino por completo.

Arrepiou ver a arquibancada ecoando o nome delas na entrada do campo, assim como fazem com os jogadores toda semana. Ouvir o estádio todo cantando "Nascer, viver e no Santos morrer é um orgulho que nem todos podem ter" para empurrar as Sereias no gramado é algo que nunca vai sair da memória de quem esteve ali para presenciar esse momento. Foi um dia histórico, que só nos fez lembrar que futebol é único, e é apaixonante, independente do gênero.

Que agora o jogo de volta em São Paulo produza a mesma atmosfera. Que os torcedores corintianos lotem a Fazendinha no sábado às 11h para empurrar o time feminino para a virada e o título. Que seja mais um grande jogo, com um grande público, porque o futebol feminino merece.

Maiores públicos do Santos na Vila Belmiro em 2018:

– Dia 02/10 – Santos x Corinthians, Paulista de futebol feminino
Público: 13.867

– Dia 16/09 – Santos x São Paulo, Campeonato Brasileiro
Público: 13.488

– Dia 25/08 – Santos x Bahia, Campeonato Brasileiro
Público: 11.564

– Dia 27/07 – Santos x Flamengo, Campeonato Brasileiro
Público: 11.843

– Dia 24/04 – Santos x Estudiantes, Libertadores
Público: 10.969

– Dia 28/01 – Santos x Ituano, Campeonato Paulista
Público: 11.513

 

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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