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Manifesto pelo direito de torcer: o #respeitaasmina começa por nós

Renata Mendonça

28/09/2018 15h23

Lugar de mulher é onde ela quiser. Inclusive no estádio. Inclusive na arquibancada. Inclusive segurando bandeirão da torcida, tocando bateria, puxando os gritos. Inclusive também andando nas ruas vestindo a camisa do seu time. É direito delas e de todo mundo vestir um uniforme e ser respeitada, porque rivais são apenas rivais, não são inimigos.

Nos últimos dias, circulou pela internet um vídeo em que uma torcedora do Corinthians intimida uma torcedora do Palmeiras dentro do vagão do metrô de São Paulo por ela estar vestindo a camisa do rival. "Tira essa farda", é o que grita a corintiana para a palmeirense, enquanto tenta arrancar seu boné. Houve agressões também de homens que chutaram a torcedora para fora do vagão. Uma cena tão primitiva que impede a convivência de pessoas em um trem porque elas não vestem as mesmas cores. É verdade que torcer é irracional, mas agir dessa maneira ultrapassa todos os limites do bom senso – e até da irracionalidade.

Não somos nós que bradamos por respeito? Que unimos nossas vozes pelo direito de torcer? De ocupar a bancada, de gritar tão alto quanto eles, de levantar nossa bandeira? Nos orgulhamos em dizer que mulheres podem, sim, gostar e entender de futebol tanto quanto os homens, mas agora vamos fazer também como eles tentando restringir a presença das mulheres na torcida? Pode torcer, mas só lá no seu estádio. Pode vestir a camisa, mas só se não passar perto de mim. #RespeitaAsMinas, mas só se for torcer para o mesmo time que eu.

 

Já não basta tudo o que passamos para conquistar nosso lugar na arquibancada? O assédio e as violências que enfrentamos todos os dias no caminho para o estádio, as perguntas sobre escalação e impedimento que passamos uma vida tendo que responder, as restrições que as próprias torcidas organizadas nos impõem – pode participar, mas só se for na secretaria, na cozinha, sem balançar bandeira e sem tocar na bateria -, já passamos por tudo isso para ocupar nosso lugar de torcedora. Agora vamos nós mesmas oprimir umas às outras?

Precisamos lembrar que, se há cores que nos separam no futebol, fora dele há muito mais que nos une: as violências e opressões que sofremos todos os dias, a discriminação no trabalho, os salários menores, os direitos reduzidos. Nossa luta precisa ser por todas, independentemente de qualquer rivalidade.

Nós, do dibradoras, nos unimos justamente pela paixão pelo futebol – que não tem as mesmas cores para todas de nós, mas sempre envolveu os mesmos preconceitos e a mesma luta. Corintiana, palmeirense, são-paulinas, somos todas mulheres que gostam de futebol e que têm o direito de ter voz também nesse espaço. Vestimos camisas diferentes, mas lutamos sempre juntas. Na arquibancada ou no trabalho de todos os dias, não gritamos somente pelos nossos times – gritamos por liberdade e respeito.

Esse manifesto é para todas as mulheres que gostam de futebol, independentemente do clube para o qual torcem. O #RespeitaAsMinas começa por nós. A rivalidade fica dentro de campo, fora dele precisamos nos unir para ocupar o espaço que merecemos e que é nosso por direito. Juntas somos mais fortes.

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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