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A influência de uma mulher na criação dos cartões no futebol

Roberta Nina

26/09/2018 12h34

Em dia de semifinal de Copa do Brasil entre Cruzeiro x Palmeiras e Corinthians x Flamengo, a tensão por parte dos torcedores é inevitável. Os gols são os lances mais esperados do jogo, mas uma falta, uma detalhe interpretativo por parte do árbitro pode facilmente mudar o rumo da partida.

A Copa do Brasil é, por enquanto, o único campeonato do Brasil onde é autorizado o uso do VAR (na tradução livre significa Árbitro Assistente de Vídeo) e a tecnologia passou a ser utilizada nas quartas-de-final do torneio.

(Foto: Adam Pretty – FIFA/FIFA via Getty Images)

Se com a utilização da tecnologia as situações de jogo ainda causam polêmicas, dá para pensar como era apitar um jogo de futebol sem a existência dos cartões amarelo e vermelho? É quase impossível imaginar como era possível advertir ou punir um jogador quando esses "papeizinhos" não faziam parte do esporte – e isso não faz muito tempo, não.

A criação deles foi obra do juiz inglês Ken Aston, mas o que quase ninguém sabe é que foi uma mulher a responsável por idealizar a ferramenta de punição mais importante do futebol.

A história

Aston levou a ideia adiante quando era membro do Comitê de Arbitragem da FIFA, mas já havia sofrido pressões e cometido erros quando arbitrava, justamente pela ausência dos cartões.

(Foto: Arquivo / Press Association)

Na Copa do Mundo de 1962, apitou o jogo entre Chile e Itália conhecido como "Batalha de Santiago" e os nervos dos jogadores estavam bem exaltados. Ele tentou acalmar os atletas, mas não conseguia fazer com que eles entendessem o que dizia. Acabou expulsando – apenas de maneira verbal – dois italianos e saiu frustrado daquela partida.

Na Copa seguinte, de 1966, mais um equívoco aconteceu. Aston já estava aposentado, atuando apenas no Comitê de Arbitragem, quando viu o árbitro alemão, Rudolf Kreitlein, passar pela mesma situação que havia vivido. Desta vez o jogo era Inglaterra x Argentina.

Tensão no jogo entre Inglaterra x Argentina (Foto: Getty Images/Hulton Archive/Central Press)

Rudolf já havia advertido três jogadores argentinos ainda no primeiro tempo e ao término da etapa inicial de jogo, o capitão argentino, Antonio Rattín, começou a gesticular fervorosamente exigindo um intérprete, afinal o árbitro alemão não entendia nada do que Rattín falava.

Ao ver aquela reclamação efusiva, Rudolf expulsa o jogador argentino que se recusa a sair de campo. O árbitro entendeu que estava sendo insultado e aplicou a punição. Rattín precisou sair de campo escoltado por policiais.

Pois bem, vendo tudo aquilo acontecer, Aston sentiu que precisava diminuir o número de confusões e criar algum tipo de regra que deixasse claro o que era advertência e o que era punição aos jogadores. Enquanto dirigia para sua casa, parou em frente a um semáforo e achou que usar a analogia das cores amarela e vermelha poderia ser uma boa saída. Mas como aplicar isso no campo?

Ken Aston apitando a "Batalha de Santiago" em 1962 (Foto: EPA)

Ao compartilhar esse problema com sua esposa, ela deu a sugestão. Seu nome era Hilda e mostrou ao marido dois pedaços de papelão, um amarelo e outro vermelho e disse: "E se os árbitros tivessem dois deles em seus bolsos? O amarelo como um aviso e o vermelho para expulsar?"

A ideia foi levada por Aston ao Comitê de Arbitragem que, após muita discussão, instaurou como regra a partir da Copa do Mundo de 1970.

Pouca gente sabe da história por trás do surgimento dos cartões amarelos e vermelhos e nem imaginam que a sugestão partiu de uma mulher. A árbitra Regildênia de Holanda Moura, árbitra FIFA que atua há 18 anos no futebol, nos disse que sabia da história e de quando os cartões foram usado pela primeira vez, mas não que nasceu a partir da ideia de uma esposa para o marido.

A árbitra Regildênia de Moura (Foto: Globoesporte.com/Divulgação)

"No curso de arbitragem, nós aprendemos a diferenciar quais são as faltas puníveis com cartão amarelo e as puníveis com cartão vermelho. Na verdade, nem sabia dessa história da mulher", afirmou às dibradoras.

A contribuição de Hilda acabou se tornando uma das principais ferramentas da arbitragem, essencial para garantir o bom andamento do jogo. As decisões sobre a aplicação de um cartão amarelo ou vermelho podem até gerar dúvidas, mas uma coisa já é certa: o futebol de hoje precisa muito deles.

 

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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