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Final da Copa do Mundo terá mulher na comissão técnica - e não é a 1ª vez

Roberta Nina

11/07/2018 20h17

Junto com a seleção da Croácia, Iva Olivari estará em uma final de Copa do Mundo (Foto: Reprodução/Instagram)

*Por Roberta Nina Cardoso e Renata Mendonça (de Moscou)

De tenista consagrada no país a gerente da seleção finalista da Copa do Mundo na Rússia: esta é Iva Olivari que, aos 49 anos, estará no banco de reservas quando sua seleção – a Croácia – entrar em campo contra a França neste domingo, em Moscou.

A Croácia venceu a Inglaterra na prorrogação nesta quarta-feira por 2 a 1 conquistando a vaga inédita para a decisão do Mundial, e contou com a participação crucial de Olivari para a construção da campanha do título. Do banco de reservas, ela "destoava" de saia e salto alto, andando de um lado para o outro em meio ao nervosismo dos minutos finais. Quando o juiz apitou o fim do jogo, saiu correndo em direção à torcida e aos jogadores para celebrar com eles esse feito histórico.

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Iva trabalha desde 1992 na Federação Croata de Futebol e, há dois anos, ocupa o cargo de gerente da seleção – o cargo dela é equivalente ao ocupado por Edu Gaspar dentro da seleção brasileira.

A primeira vez que a gerente apareceu no banco de reservas da seleção foi durante a Eurocopa de 2016, disputada na França. Entre suas principais atribuições está cuidar da logística e da infraestrutura da equipe para que o técnico e os jogadores possam se concentrar somente nos jogos.

Iva no banco de reservas da seleção croata durante a Eurocopa de 2016 (Foto: Reprodução/Mais Futebol)

Seu desempenho e participação da gestão da seleção croata tem o reconhecimento da população e imprensa local. Iva tem muita fama no meio empresarial e é apontada como referência feminina na busca por espaço no mercado de trabalho.

"Com a independência da República da Croácia (em 1995) e a criação da Federação Croata de Futebol, foi necessário o estabelecimento de serviços profissionais. Comecei a trabalhar no Departamento Internacional, desde o início. Novos processos foram lançados e não havia muitas pessoas que pudessem ser ensinadas. Havia uma necessidade de estabelecer um sistema para registro e transferência de jogadores que operava ainda na Sérvia, iniciar relações com Fifa e Uefa e também organizar amistosos. E não apenas do time principal, mas também de jovens, mulheres e futsal. Eu tive várias funções", contou Olivari em entrevista.

Foi uma das primeiras funcionárias da Federação e, por conta disso, acabou conhecendo quase todas as atividades responsáveis pela entidade. E por ser uma das poucas, senão a única mulher na Federação – enfrentou bastante machismo no início, mas declarou que atualmente já é tratada de maneira igualitária.

Iva Olivari faz parte da comissão técnica da Croácia há dois anos (Foto: Getty Images)

Os jogadores a conhecem desde a categoria de base e muitos a chamam de "Tia Iva". Cuidando da seleção e vendo a equipe se aperfeiçoar em campo, assim como acontece com a maioria das mulheres, a gerente precisou se desdobrar para cuidar de seus filhos e trabalhar ao mesmo  tempo. "Com eles crescidos se tornou mais fácil, só que não teria conseguido sem o apoio familiar. O tempo de trabalho no sentido clássico da palavra não existe nesse caso", pontuou.

"Tia Iva" entre os craques Ivan Rakitic e Mario Mandzukic (Reprodução: Instagram)

Olivari ainda é exceção entre as 32 seleções desta Copa do Mundo, sendo uma das únicas mulheres a terem conquistado um espaço no banco de comissão técnica de uma equipe no Mundial. É muito difícil ver representantes do sexo feminino ocuparem qualquer cargo relacionado ao futebol masculino, especialmente nos postos mais importantes, como é o caso da gerente croata.

Na seleção brasileira, por exemplo, até 2018, nenhuma mulher havia sequer viajado junto com a delegação como parte integrante de uma comissão. Neste Mundial, havia uma médica (nutróloga) na equipe e uma gerente administrativa.

A primeira

A presença de uma mulher na comissão técnica de uma seleção em Copa do Mundo chamou a atenção na Rússia, quando Olivari ganhou as manchetes da imprensa mundial. No entanto, ela não é a primeira a conseguir tal feito – nem será a primeira a ficar no banco em uma final do Mundial. Em 2010, a Espanha foi campeã com a participação de Silvia Dorschnerova na campanha do título inédito da La Roja.

Silvia, em 2010, campeã com a Espanha no Mundial da África do Sul (Foto: DPA)

Silvia é filha de tchecos, nascida na Alemanha e criada na Espanha. Trabalha na Federação Espanhola desde 1982 e já participou de cinco Copas do Mundo como integrante da comissão técnica – esteve inclusive este ano na Rússia.

Começou fazendo parte do Comitê Organizador da Copa do Mundo realizada na Espanha como tradutora. Desde então, esteve sempre ligada à Seleção Nacional. A primeira Copa do Mundo de Silvia em campo foi em 2002, realizada na Coreia e no Japão, onde ela foi a única mulher delegada a integrar uma seleção.

O abraço do goleiro Casillas em Silvia (Foto: Reprodução/Goal)

Durante os jogos, Silvia é responsável por anunciar as modificações da equipe ao quarto árbitro e a entregar as atas aos juízes. Fora do campo, faz o papel de "ponte" entre a equipe técnica e a Fifa.

Quando ela esteve no banco de reservas da Espanha naquela final histórica diante da Holanda em 2010, pouco se falou sobre o que aquela presença significava. À época, pouco se falava sobre o papel das mulheres no futebol e qualquer protagonismo delas era ignorado.

Nos últimos anos, porém, houve um movimento que fez notar a presença feminina nesse esporte ainda tão dominado por homens, e também por isso, é ainda mais significativa essa conquista de Olivari na seleção croata. Na final da Copa do Mundo, quando todas as televisões do planeta estarão ligadas para acompanhar quem ficará com o título, haverá uma mulher no banco de uma das comissões técnicas mostrando que aquele espaço também pode ser delas.

Agora, com as mulheres buscando mais espaço em cargos diretivos do futebol, é a vez de Iva Olivari aparecer e também mostrar seu valor junto com a comissão técnica croata na final do Mundial da Rússia. Quem sabe no Catar, ela e Silvia Dorschnerova tenham mais companheiras para dividir esse protagonismo.

 

Imagem: Divulgação/HNS

 

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Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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