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Pode abaixar o volume, Terry: vai ter mulher narrando no Reino Unido também

Renata Mendonça

21/06/2018 11h20

Vicki Sparks narrou direto do Estádio Luzhnik o jogo entre Portugal e Marrocos (Foto: Getty)

Vicki Sparks fez história na última quarta-feira como a primeira mulher a narrar um jogo de Copa do Mundo em TV aberta no Reino Unido. Pela BBC, ela comandou os microfones para a transmissão de Portugal e Marrocos, direto do Estádio Luzhniki, em Moscou, e narrou logo aos 4 minutos o primeiro e único gol do jogo com a cabeçada certeira de Cristiano Ronaldo.

"Wouldn't you just know it?" (E você simplesmente já não sabia?, numa tradução livre), disse ela na hora em que o artilheiro de Portugal balançou as redes.

Foi a primeira vez que uma rede britânica de televisão teve uma mulher narrando um jogo da Copa. Aliás, narradoras na terra onde o futebol foi inventado ainda são raridade e, quando aparecem, é no futebol feminino.

O Mundial da Rússia, então, está sendo um marco para os britânicos também – que assim como os brasileiros (na Fox Sports 2), também estão tendo a oportunidade de ouvir uma voz feminina narrar as partidas pela primeira vez. Com o diferencial de que Vicki Sparks estava no estádio, sentindo a emoção da torcida de perto, e conquistando mais um lugar importante para as mulheres.

Na tribuna de imprensa do Estádio Luzhnik, quase não se via mulheres ocupando as cadeiras. Entre os que detinham o microfone na mão, elas simplesmente não existiam. Sparks era a única no meio dos homens com a coragem para enfrentar um mutirão de comentários preconceituosos – vindos até mesmo de um dos capitães da seleção inglesa no passado.

O zagueiro John Terry usou suas redes sociais para criticar a narração de Sparks. "Tive que ver esse jogo no mudo", escreveu seu Instagram filmando a televisão plugada na BBC One, canal que transmitia a partida com a narração de Sparks.

"Tendo que ver esse jogo no mudo", disse John Terry no Instagram

É bom o ex-capitão da Inglaterra ir se acostumando, porque esse não será o único jogo narrado por uma mulher nesta Copa. Sparks seguirá na cobertura da BBC, tanto pela rádio 5 Live, quanto pela televisão, quebrando barreiras e calando vozes preconceituosas como a do zagueiro ex-jogador do Chelsea.

Infelizmente, nesse sentido a Inglaterra é bem parecida com o Brasil. Enquanto Sparks fazia história em rede nacional, apareceram diversos comentários no Twitter criticando o fato de haver uma voz feminina na narração do jogo.

Mas apesar de ter ouvido algumas críticas, Sparks também recebeu inúmeras mensagens de apoio pelo seu feito. O apresentador da BBC Sport, John Benett, foi um deles: "Minha filha ainda é muito nova para gostar de futebol (apesar de todos os meus esforços). Mas que bom saber que ela irá crescer em uma geração que ter narradoras e comentaristas de futebol é normal. Parabéns, Vicki Sparks".

A narradora começou sua carreira em 2014, quando participou de um processo seletivo da BBC que buscava novas vozes na narração para a cobertura e transmissões do Campeonato Inglês de Futebol feminino. "Eu sempre quis tentar a narração, então quando vi essa oportunidade, pensei em abraçá-la para ver o que aconteceria".

Ela também trabalhou em reportagem esportiva e, no ano passado, esteve nas manchetes dos jornais britânicos após ouvir um comentário machista do técnico David Moyes, que na época comandava o Sunderland. "Você está ficando malcriada, então preste atenção. Você ainda pode levar um tapa, mesmo sendo mulher", disse o treinador, que acabou denunciado e condenado a pagar uma multa de 30 mil libras.

As primeiras narrações femininas da Copa do Mundo no Brasil, as primeiras narrações delas também no Reino Unido, a primeira comentarista do Mundial na América Latina (Viviana Villa pela Telemundo)…barreiras foram feitas para serem quebradas. Seguiremos ~dibrando os comentários machistas e conquistando o nosso espaço.

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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