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Copa do Mundo: Abertura histórica tem primeira narração feminina

Renata Mendonça

14/06/2018 13h50

Vanessa Riche, Isabelly Morais e Nadine Bastos, a equipe feminina que iniciou os trabalhos da Copa no Fox Sports 2. Foto: Divulgação

É real, é oficial, a Copa do Mundo de 2018 começou e começou já fazendo história. Pela primeira vez desde que o torneio foi criado em 1930, uma mulher abriu uma transmissão de Mundial comandando os microfones. Foi a narradora Isabelly Morais a responsável pelo feito na Fox Sports 2, canal que trará uma cobertura cheia de vozes femininas no torneio.

A iniciativa é resultado do processo seletivo "Narra Quem Sabe", que selecionou três mulheres para comporem o time de narradores da Fox Sports na Copa do Mundo. Elas passaram os últimos meses em treinamentos intensivos para estrearem em grande estilo no principal torneio de futebol do Mundo.

Escolhida para abrir a transmissão do primeiro jogo da Copa, entre Rússia e Arábia Saudita, Isabelly Morais não é uma novata. Ela narrou pela primeira vez uma partida oficial em 2017 pela rádio Inconfidência entre América-MG e ABC e depois seguiu por lá ganhando experiência até ter a oportunidade de brilhar no Mundial.

"Rola a bola, primeira partida começa na Copa do Mundo Fifa 2018, venha conosco, Rússia e Arábia Saudita", foi assim que Isabelly abriu a transmissão para essa partida histórica. Ao lado dela, Vanessa Riche e Eugênio Leal nos comentários e Nadine Bastos para analisar a arbitragem.

E olha que o desafio de Isabelly Morais não foi pequeno. Cheios de nomes difíceis de serem pronunciados, Rússia e Arábia Saudita fizeram um jogo tecnicamente não tão bom, mas carregado de emoção por ser o primeiro do time da casa no torneio. Foram cinco gols narrados pela primeira vez com a voz feminina, marcados por Gazinsky, Dzyuba, Golovin e dois de Cherysev,  – aliás, haja "ovs" e "insks" a serem pronunciados nesses jogos da seleção russa.

Mas a narradora mineira dominou todos eles com maestria – e com a simpatia que lhe é peculiar. Já mais solta nos microfones, Isabelly transmite a tranquilidade de quem sabe o que está fazendo no microfone. E arrepia nossos ouvidos com a emoção desse momento: está acontecendo, estamos vendo um jogo de Copa do Mundo narrado por uma mulher.

Mais do que descrever o que estava acontecendo na partida, Isabelly trazia informações históricas das duas seleções, estatísticas de jogadores, informações táticas das duas equipes e tudo como tem que ser. Aproveitou também o momento para usar o bom "mineirês" ao narrar que o goleiro "fez a catada" quando realizava alguma defesa.

Enfim, uma narração completa, de quem realmente se preparou para o momento e sabe o que diz – afinal de contas, ocupar esse microfone não deveria ser uma questão de gênero, e sim de competência.

Mas é claro que não faltariam os comentários preconceituosos daqueles que disseram "ter mudado de canal" para não ouvir uma mulher narrando e outros afirmando que "é muito estranho, não combina ouvir voz feminina na narração".

Estranho é mesmo. Qualquer coisa diferente do que estamos acostumados soará "estranho" aos nossos ouvidos. Até que um dia, de tanto  ouvirmos, perceberemos que pode também ser "normal" ouvir a voz feminina narrando futebol.

"O que eu quero que aconteça daqui para frente é que as pessoas percebam que é possível sim uma mulher narrar futebol. Durante décadas, a gente que acompanha futebol se acostumou com a narração masculina, e essa voz ficou naturalizada pra gente. Nós nunca ouvimos narração de mulher, então causa uma estranheza, porque é diferente", afirmou Isabelly às dibradoras em novembro de 2017, logo após sua primeira narração na rádio.

"Tudo que é incomum causa estranheza. Mas o que eu espero a partir de agora é que outras mulheres possam se inserir nesses meios para que a voz feminina na narração comece a se naturalizar, que vire normal."

 

Ao menos ao longo dessa Copa já podemos dizer que será "normal" ver mulheres narrando. Porque alguns dos principais jogos do Mundial terão a voz feminina ditando o ritmo da partida na Fox Sports 2. A próxima narração será de Manuela Avena, que narrará Portugal x Espanha na sexta-feira às 15h, e depois Renata Silveira narrará Brasil x Suíça no domingo.

Ao longo do jogo entre Rússia e Arábia Saudita, apesar da pouca resistência de parte do público, muita gente usou as redes sociais para elogiar a narração de Isabelly Morais. O feito realizado durante a transmissão ficou entre os 10 assuntos mais comentados no Twitter.

"Acompanhando no Fox Sports 2, a narração inovadora", disse uma torcedora no Twitter. "Eu vivi pra ouvir uma mulher narrar o primeiro jogo da #FIFA18WorldCup. Obrigada, @FoxSportsBrasil", afirmou outro. "@FoxSportsBrasil Por mais mulheres narrando futebol. Parabéns. #FOXNaRussia #JogaOQueSabe #WorldCupRussia2018".

O canal também trará mesas redondas só com mulheres comentando os jogos – o "Comenta Quem Sabe" será um programa comandado por Vanessa Riche para falar sobre os jogos da Copa.

Que esse momento possa se repetir em mais transmissões e inspire mais mulheres a ocuparem esse espaço. Narrar futebol também é coisa de mulher!

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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