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‘Comecei a jogar bola aos 40 anos por causa da minha filha’

Renata Mendonça

07/06/2018 09h37

É muito comum conhecer histórias onde o amor pelo futebol passou "de pai para o filho". Há também casos onde essa mesma ligação foi passada de "pai para a filha" e, mais raramente, de "mãe para a filha".

O futebol, ainda na primeira infância, é a brincadeira mais incentivada entre os garotos, A bola é companheira desde os primeiros passos e poucas são as famílias que se arriscam a dar o mesmo brinquedo – a bola – para sua garotinha.

Mas vejam só, que curiosa a história de Keiko Rocha, de 44 anos e mãe de Mitiê Rocha, de 15. Nesta família, o amor pela bola surgiu por um interesse pessoal da filha que acabou passando para a mãe. Ou seja, a nova geração foi a responsável por uma transformação dentro de casa.

"Desde pequena eu gostava de futebol. Vi alguns jogos na televisão e decidi que queria jogar futebol", contou Mitiê às dibradoras. A mãe, que sempre incentivou a filha a praticar uma atividade física, tentou convencê-la a lutar ou dançar. "Tentei fazer com que ela gostasse de outras coisas porque não achei que o gosto pelo futebol era verdadeiro. Sugeri o ballet e o kung-fu, mas ela queria o futebol", relatou Keiko.

Mitiê até tentou. Fez um ano de kung-fu, mas o amor pela bola era maior. A dificuldade encontrada pela mãe era descobrir clubes onde a filha pudesse treinar junto de outras meninas. "Eu não tinha noção do que era futebol até conhecer a escolinha Olímpia, no Campo Belo, onde ela jogou dos 9 aos 13 anos". Foi assim que tudo começou e, por conta de um amistoso contra o Centro Olímpico, tudo mudou na vida da Mitiê.

A Copa Moleque Travesso é um torneio disputado por garotos com idade aproximada de 13 anos. Na edição de 2016, algumas meninas tiveram a oportunidade de se inscrever no torneio, afinal, não há opções de competições femininas para incentivar a pratica entre elas. O time do Olímpia participou do campeonato e a Mitiê, aos 13 anos, era a única garota da equipe. E detalhe: usava a braçadeira de capitã.

Canhota, jogando como lateral-esquerda, Mitiê se destacou jogando contra a equipe do ADECO (Associação Desportiva Centro Olímpico) referência esportiva da cidade de São Paulo que desde 1976 forma atletas para o alto rendimento no esporte. Sua mãe conversou com Thiago Viana (treinador do Centro Olímpico) e ele disse que haveria uma peneira feminina em uma semana e convidou Mitiê para participar. A garota fez o teste e foi aprovada e assim, há dois anos, Mitiê treina 3 vezes por semana no ADECO.

Amor pelo futebol de filha para mãe

A Keiko é parceira inseparável da Mitiê. Sempre está presente nas competições em que a filha participa e nos estádios, prestigiando o futebol feminino. E foi assim, acompanhando a rotina da filha que ela conheceu outras mães – que estavam no mesmo lugar e pelo mesmo motivo – e pensaram: "será que a gente também consegue jogar e fazer embaixadinhas?". Por curiosidade e vontade própria, as mães de atletas se uniram e decidiram entrar em campo para jogar futebol.

Com o acompanhamento de um professor, cerca de 20 mulheres (com idade média de 35 anos) se encontram quinzenalmente aos domingos para a pelada. "Em maio fez um ano que começamos a praticar. Nosso treino tem um professor que dá um treino funcional por 40 minutos onde aprendemos a passar e dominar a bola e vimos recentemente a evolução que já atingimos. Já podemos dizer que estamos preparadas para enfrentar um outro time", disse Keiko que joga como zagueira.

Mitiê apoiou a mãe a jogar futebol desde o início. "Achei muito legal porque agora tenho alguém com quem eu possa jogar também". E assim, aos domingos – quando a Mitiê não tem treino ou competição – elas saem de casa juntas, com chuteiras nos pés, para jogar juntas com outras mães e filhas. "Sempre que posso levo a Mitiê comigo e lá ela é uma celebridade", gaba-se a mãe da jovem jogadora que pensa em estudar e treinar fora do país e chegar à seleção brasileira.

Mãe e filha estão sempre juntas, se apoiando e se inspirando mutuamente. "O apoio da minha mãe é muito bom, acaba me motivando muito mais na hora do jogo e eu quero impressioná-la", conta Mitiê. Por outro lado, Keiko – que jamais pensou em ter uma filha que gostasse de futebol – sente-se orgulhosa e só deseja a felicidade para Mitiê, "Nunca imaginei que teria uma filha que jogasse futebol. A gente sempre pensa naquela imagem da filha como uma 'princesinha', usando um vestido, mas só agora, com as festas das amiguinhas de 15 anos surgindo, é que pude ver minha filha usando um vestido (risos). Mas ver o sorriso da minha filha e esse olhar dela quando vê um jogo de futebol é tudo pra mim"

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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