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Um gol aos 40 anos no 162º jogo: O que Formiga representa para a seleção

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09/04/2018 09h23

Foto: Lucas Figueiredo/CBF

No último sábado, Formiga entrou em campo para fazer seu 162º jogo pela seleção brasileira. Com 40 anos recém-completados, ela é a jogadora mais experiente do time que disputa a Copa América de futebol feminino no Chile.

É também a atleta que mais representou o Brasil em competições internacionais, a recordista de Olimpíadas e Copas do Mundo (seis edições de cada), a jogadora mais velha a marcar um gol em um Mundial (aos 37 anos na Copa de 2015), a que mais vezes vestiu a camisa da seleção (entre homens e mulheres)… esse texto poderia seguir por parágrafos e parágrafos elencando os recordes de Formiga dentro de campo e não teria mais fim.

Contra o Equador, no segundo jogo da Copa América, Formiga ainda alcançou mais uma marca: seu primeiro gol aos 40 anos de idade – e com fôlego de 20. Na goleada da seleção por 8 a 0, ela fez o quarto, aparecendo de surpresa no segundo pau para cabecear o cruzamento de Rilany para o fundo das redes.

Na comemoração, saiu fazendo seu tradicional "coraçãozinho" com as mãos, sorrindo aquele riso de menina que a levou pela primeira vez para o futebol ainda na adolescência.

Nascida na Bahia em 3 de março de 1978, Miraildes Maciel Mota deu seus primeiros ~dibres dentro de casa, arrancando as cabeças das bonecas que ganhava para poder jogar à revelia daqueles que não cansavam de dizer: "isso não era coisa para menina". Mas ela não dava ouvidos. Insistiu e persistiu no futebol, mesmo diante da falta de clubes, da falta de estrutura, da falta de investimento. Faltava tudo, mas dela não faltou dedicação e luta para que a realidade hoje pudesse ser melhor para as meninas que escolhessem seguir os seus passos – e os seus passes.

E foram muitas as que contaram com eles dentro de campo. De 1995 (quando ela chegou à seleção aos 17 anos) até aqui, ao menos seis gerações dividiram os gramados com Formiga, invejando seu fôlego e sua velocidade e se inspirando na sua gana e vontade de vencer sempre. O apelido, aliás, veio de sua multiplicação em campo: volante por origem, Formiga é daquelas que não dão espaço na marcação e ainda aparecem de surpresa no ataque – uma característica que não perdeu, mesmo com o avançar da idade.

"Uma mutante dentro de campo", definiu a capitã da seleção brasileira em 2004, Juliana Cabral. René Simões, o técnico daquela geração de prata em Atenas, disse que, "considerando homens e mulheres, nunca treinou uma jogadora tão completa como Formiga".

 

Foto: CBF

Mas ainda assim, nós levamos tanto tempo para entender a importância de uma gigante como foi (e, para a nossa sorte, ainda é) a Formiga. Assim como o futebol feminino no Brasil, ela não é valorizada como merece. Somente nos últimos três anos que o país começou a conhecer mais a sua história, os seus recordes. Foi só em 2016 que, em meio aos "Olê Olê Olá, Marta, Marta", as 70 mil pessoas que estavam no Maracanã para a semifinal olímpica se lembraram de gritar seu nome.

Parecia tarde demais – afinal foi naquele mesmo ano que Formiga anunciou sua aposentadoria da seleção com uma despedida no Torneio Internacional de Manaus tão pouco falada para a magnitude do que aquilo representava.

Mas dois anos depois, um retorno inesperado veio. Na preparação para a Copa América, torneio classificatório para a Copa do Mundo do ano que vem e para a Olimpíada de 2020, Formiga decidiu voltar para ajudar por mais alguns jogos o Brasil a completar seu ciclo com sucesso. São mais de 20 anos se dedicando inteiramente a essa camisa amarela e ainda é difícil imaginar que um dia vai existir seleção brasileira sem Formiga.

Por enquanto, resta a todos nós aproveitarmos os minutos que restam dessa craque em campo. E aprender a valorizar a história dessa jogadora, que por tanto tempo tem sido a alma da seleção brasileira dentro e fora das quatro linhas. São mais de duas décadas de futebol, 162 jogos (e contando), seis Copas do Mundo, seis Olimpíadas, e uma quase que onipresença em campo em todo esse histórico. Esse gol aos 40 anos pode ter sido apenas mais um na goleada sobre o Equador, mas para nós ele é simbólico para lembrar o quanto devemos ser gratos por ainda podermos contar com Formiga dentro de campo.

(O Brasil joga de novo na Copa América nesta quarta-feira, às 19h, contra a Venezuela, com transmissão do Facebook oficial da competição).

 

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

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