Topo

Dibradoras

Amanda Nunes x Raquel Pennington: a luta vai além do octógono

Dibradoras

23/03/2018 07h00

Foto: Ag. Fight

Foi em 2013 quando Liz Carmouche pisou no octógono e fez história dupla: primeiro por fazer parte da primeira luta feminina do UFC e depois por ser a primeira atleta declaradamente lésbica a competir na maior organização de MMA naquele momento.

Para a luta em si, isso não afetou em nada. Mas para a história da participação de LGBT no esporte, acrescentou muito.

No UFC 224, que acontecerá no próximo dia 12 de maio, teremos a luta entre Amanda Nunes e Raquel Pennington. As duas são amigas fora do ringue e postaram nas redes sociais fotos de um encontro com suas respectivas namoradas. Sem dúvida, um dos grandes momentos para gravar na história da representatividade LGBT no esporte.

Não é a primeira luta entre atletas lésbicas no octógono. Contra Liz Carmouche, a brasileira Jéssica Andrade fez a primeira luta onde duas atletas declaradamente homossexuais se enfrentaram ainda em 2013.

Dali em diante, diversas atletas abertamente lésbicas também lutaram no UFC. É verdade que já lutavam em outras competições como Invicta e Strikeforce, mas, para o grande público, o UFC é a referência do MMA. Nele tivemos a primeira atleta brasileira a conquistar o cinturão. Amanda Nunes contou com a torcida brasileira em julho de 2016, finalizou Miesha Tate e em sua coletiva dedicou o título para Nina, sua namorada: "É incrível (sobre ser a primeira campeã LGBT), sou feliz comigo mesma. É isso o que importa. Nina é a melhor parceira de treinos da minha vida. Ela vai ser a próxima campeã dos palhas, podem ter certeza. Ela tem muito talento e significa tudo para mim. Me ajuda demais. Eu a amo."

Num mundo onde o preconceito ainda é imenso, declarar a a homossexualidade se faz importante. Para quem vê de fora, pode parecer algo irrelevante. Mas para a comunidade LGBT, ter representantes nessas posições de destaque significa muita coisa.

Essas atletas podem nos dar voz, podem encorajar quem ainda teme falar sobre sua própria sexualidade e ajudam a naturalizar o tema.

Há representantes lésbicas que também carregam a bandeira LGBT em outros esportes. Apenas citando algumas, tivemos o caso de Abby Wambach que beijou sua esposa na comemoração da Copa do Mundo de 2015, por exemplo. Tivemos Isadora Cerullo, do rúgbi brasileiro, que recebeu um pedido de casamento da namorada Marjorie após uma partida na Olimpíada do Rio – a imagem das duas no campo percorreu o mundo todo. Ainda no MMA, temos o exemplo recente da Jéssica "Bate-Estaca" Andrade que também pediu sua namorada em casamento depois da luta no UFC 211.

Especificamente no mundo do MMA, ainda que algumas lutadoras digam que não "levantam a bandeira LGBT" propriamente, elas nos dão uma visibilidade importante. Elas estão ali para mostrar que existimos e que a diversidade é o caminho.

É preciso entender que boa parte da sociedade ainda esconde seus preconceitos dizendo que não faz sentido falar disso em público, que a orientação sexual é particular de cada pessoa, e justamente esse é o ponto que explica o motivo de tanta importância. Infelizmente ainda é necessário "se declarar" homossexual para que sejamos reconhecidos no mundo e para conseguirmos lutar contra a marginalização. E se isso não for falado abertamente no mundo em que vivemos, jamais deixará de ser um assunto tabu.

Sou lésbica e vejo nessas atletas a mensagem de que estamos aqui, que existimos. Que temos direitos e deveres como qualquer outro cidadão, que podemos ter nossas vidas, famílias e também temos o direito de ser como quisermos ser. E tudo bem. Portanto torço para que essa naturalidade com que as atletas são tratadas no UFC e em outros torneios de MMA seja exemplo para outras modalidades esportivas para com as pessoas LGBT. Para que todos os atletas possam ser quem são e que isso não torne sua capacidade e profissionalismo motivo de dúvidas e chacotas.

Um mundo mais justo que respeite todas as pessoas como elas são parece impossível, mas continuamos lutando por isso. Ainda com todos os problemas das categorias femininas no UFC, desejo vida longa a todas as atletas que acrescentam em nossa caminhada. E desde já na torcida pela Amanda Nunes!

 

Sobre as autoras

Angélica Souza é publicitária, de bem com a vida e tem um senso de humor que, na maioria das vezes, faz as pessoas rirem. Alucinada por futebol - daquelas que não pode ver uma bola que já sai chutando - sabe da importância e responsabilidade de ser uma mulher com essa paixão. Nas costas, gosta da 10, e no peito, o coração é verde e branco e bate lá na Turiassú. Renata Mendonça é apaixonada por esporte desde que se conhece por gente. Foi em um ~dibre desses da vida que conseguiu unir trabalho e paixão sendo jornalista esportiva. Hoje, sua luta é para que mais mulheres consigam ocupar esse espaço. Roberta Nina é aquariana por essência, são-paulina por escolha e jornalista de formação. Tem por vocação dar voz às mulheres no esporte.

Sobre o blog

Futebol não é coisa de mulher. Rugby? Vocês não têm força para jogar... Lugar de mulher é na cozinha, não no campo, na quadra, na arquibancada. Já ouviu isso muitas vezes, né?! Mas o ~dibradoras surgiu para provar justamente o contrário. Mulher pode gostar, entender e praticar o esporte que quiser. E quem achar que não, a gente ~dibra ;)

Dibradoras